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Vitaminas e Sistema Imunitário

Foto do escritor: Bruno FigueiredoBruno Figueiredo

O Sistema imunitário está sempre ativo e em constante vigilância. Para tal é necessário energia, substratos para a biossíntese e moléculas reguladoras, todas derivadas da alimentação. Atualmente é reconhecido que as vitaminas e os oligoelementos desempenham um papel importante no suporte do sistema imunológico e na redução do risco de infeções. Portanto, um fornecimento adequado de uma ampla gama de nutrientes é essencial para apoiar o sistema imunológico no funcionamento ideal.


“A vitamin is a substance

that makes you ill if you don’t eat it.”

- Albert Szent-Gyorgyi,

Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1937



As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades na alimentação. A declaração de Albert Szent-Gyorgyi resume o impacto das vitaminas nos órgãos vitais do organismo, incluindo o sistema imunitário. O papel da nutrição na imunidade tem recebido uma atenção crescente nas últimas décadas, em relação ao efeito de nutrientes essenciais como as vitaminas e minerais em aspetos específicos da função imunitária. É vasta a complexidade da interação entre nutrição e imunologia. O estado nutricional de um indivíduo, a dieta e o padrão de ingestão de alimentos afetam o funcionamento do sistema imunológico, a nível das barreiras físicas (pele, mucosas), microbioma, sistema imunológico inato e adaptativo. Por outro lado, o sistema imunológico também afeta o metabolismo e as necessidades nutricionais, influenciando a resposta fisiológica aos alimentos. 1


O sistema imunitário é uma rede complexa de células e moléculas que protegem o organismo, com o objetivo de nos manter saudáveis. É uma propriedade fundamental da imunidade que nenhuma parte do organismo seja excluída da sua vigilância. Por isso, embora o sistema imunológico possa parecer menos substancial do que um órgão, em conjunto, a imunidade consome enormes recursos. Consiste num conjunto de células, químicos e processos que funcionam para proteger a pele, as vias respiratórias, o trato intestinal e outras áreas de antigénios estranhos, como micróbios (organismos como bactérias, fungos e parasitas), vírus, células cancerígenas e toxinas.

O sistema imunológico pode ser visto como tendo duas “linhas de defesa”: imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade inata representa a primeira linha de defesa a um patógeno intruso. É uma resposta rápida, antigénio independente e sem memória imunológica.


A imunidade adaptativa, por outro lado, depende da ativação de células especializadas, os linfócitos, envolvendo um intervalo de tempo entre a exposição ao antigénio e a resposta máxima. A imunidade adaptativa tem a capacidade de memória, que permite ao hospedeiro montar uma resposta imunológica mais rápida e eficiente após a exposição subsequente ao antigénio. A imunidade inata e adaptativa são mecanismos complementares e como em qualquer sistema, um defeito, resulta em vulnerabilidade do hospedeiro ou em respostas inadequadas.


Alguns sinais de um sistema imunitário enfraquecido:

  • Constipações frequentes e outras infeções - O normal é que os adultos tenham 2-3 episódios de constipação ou infeção por ano, com uma recuperação entre 7-10 dias. Pessoas com um sistema imunitário enfraquecido podem ter episódios mais frequentes e demorados.

  • Problemas digestivos – Cerca de 70% do sistema imunitário está localizado no trato digestivo. Diarreia, obstipação e gases com recorrência, comprometem o sistema imunitário.

  • Atraso na cicatrização – As feridas demoram mais tempo a cicatrizar.

  • Fadiga – Apesar de um descanso adequado, sensação de cansaço constante. O corpo pode estar a reservar energia para “alimentar” o sistema imunitário.

  • Stress – O stress causa uma diminuição dos linfócitos que, quando em níveis baixos, aumentam o risco de viroses, como as constipações.

Embora algumas vitaminas, tais como as vitaminas C e E e os membros do complexo B, possam atuar de forma relativamente não específica no sistema imunitário (como antioxidantes), outras vitaminas, tais como as vitaminas A e D, podem influenciar a resposta imunitária de formas altamente específicas.


 

Vitamina D

Para além do seu papel na homeostasia do cálcio e saúde óssea, há cada vez mais provas de que a forma hormonal da vitamina D, 1, 25-di-hidroxivitamina D(3), parece servir como modulador do sistema imunitário. A vitamina D3 (VD3) é a forma fisiológica mais relevante da vitamina D. É sintetizada na pele a partir do 7-dehidrocolesterol, processo este que depende da luz solar, especificamente a radiação ultravioleta B. Em alternativa a vitamina D pode ser adquirida através da dieta ou suplementação. A vitamina D3 é então convertida no fígado em 25-dihidroxivitamina D3 (25(OH)VD3), a forma circulante predominante de vitamina D e determinante do estado nutricional e por último é metabolizada nos rins transformando-se em 1,25(OH)2VD3, o metabolito fisiologicamente mais ativo da VD3. Para além do processamento no fígado e nos rins, a VD3 pode ser também metabolizada pelas células do sistema imunitário, incluindo macrófagos, células dendríticas (CD), linfócitos T e B, pois expressam as enzimas CYP27A1 e/ou CYP27B1, e portanto também podem converter a 25(OH)VD3 em 1,25(OH)2VD3. (Fig.1) 2

Figura 1: Visão geral do metabolismo da Vitamina D


A importância da vitamina D na regulação, tanto do sistema imunitário inato como adaptativo, foi demonstrada pela descoberta da presença de recetores de vitamina D e enzimas metabolizadoras de vitamina D em quase todas as células do sistema imunitário. 3 Dados epidemiológicos ligam a deficiência de vitamina D a um funcionamento defeituoso do sistema imunitário com um risco acrescido de infeções e uma predisposição para a doença autoimune. 4 O mecanismo exato de proteção pela vitamina D3 permanece elusivo. Com base no conhecimento atual, a observação mais importante é que a vitamina D3 resulta numa mudança de uma resposta inflamatória Th1 para uma resposta pro-tolerogénica Th2. 4 O 1,25-(OH)2D3 modula os linfócitos T e as células apresentadoras de antigénio, neste caso as células dendríticas (CD) para um fenótipo menos maduro e mais tolerogénico com alterações tanto na morfologia, como na produção de citocinas e marcadores de superfície. A alteração é também refletida por uma mudança no perfil das citocinas. Em estudos in vitro, 1,25-(OH)2D3 resultou numa redução de IL-1, IL-6, e IL-17, juntamente com uma redução de TNF-α e um aumento de IL-4, IL-5, IL-10 e uma redução de IFN-γ. (Fig. 2) 4 O efeito na indução de potenciais células T reguladoras, importantes para a regulação das respostas imunitárias e para o desenvolvimento da autorreatividade, resulta da atividade anti-inflamatória, antimicrobiana (indução catelicidina) e antioxidante do 1,25-(OH)2D3 sobre os monócitos e macrófagos. 4

Figura 2: Ações imunomoduladoras da Vitamina D ativa (1,25-(OH)2D3)


 

Vitamina C

A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico, é um conhecido antioxidante que desempenha um papel fundamental como protetor, potenciador e imunomodulador do sistema imunitário, por ser um cofator de várias enzimas envolvidas na biossíntese e regulação da expressão genética. A vitamina C apoia vários aspetos do sistema imunitário inato e adaptativo, incluindo a manutenção da integridade da barreira epitelial, promove a atividade das células natural killer (NK), a proliferação e diferenciação linfocítica e a quimiotaxia. 5 A deficiência de vitamina C resulta numa imunidade prejudicada e numa maior suscetibilidade a infeções, enquanto a suplementação com vitamina C parece útil para prevenir e tratar infeções. 6 A vitamina C acumula-se nos leucócitos, como os neutrófilos e os monócitos, pois contribui para o funcionamento destas células, cujas reservas são usadas rapidamente aquando de uma infeção. Para além de aumentar a quimiotaxia, a fagocitose, a formação de espécies reativas de oxigénio (ROS) e a morte microbiana é também necessária para a apoptose e eliminação dos neutrófilos após infeção, diminuindo assim a necrose/netose e potenciais danos nos tecidos. Importante também na manutenção do equilíbrio entre a formação de oxidantes e as defesas antioxidantes, uma vez que a interrupção deste equilíbrio causa alterações em múltiplas moléculas de sinalização, particularmente o fator de transcrição pró-inflamatório (Nf-kN), resultando na produção constante de ROS e mediadores inflamatórios. (Fig. 3) 6 O papel da vitamina C nos linfócitos é menos claro, mas tem demonstrado aumentar a diferenciação e proliferação de células B e T, provavelmente devido ao seu efeito como regulador genético. 5 Quando detetam uma ameaça, os linfócitos rapidamente desencadeiam uma resposta proliferativa. Foi demonstrada que a vitamina C melhora esta resposta, provocando assim atividades linfocíticas. 6

Figura 3: Vitamina C e o Sistema Imunitário


 

Suplemento Multivitamínico e Mineral

Como consequência das alterações no padrão alimentar em geral, a suplementação da dieta com micronutrientes é prática comum. O estilo de vida, o stress, a falta de tempo, o acesso fácil a alimentos processados e de fraco índice nutricional, tornam nos dias de hoje esta complementaridade necessária. Conhecendo o impacto que os nutrientes têm sobre as células imunológicas, são várias as linhas de evidência que sugerem que tomar um suplemento multivitamínico e mineral pode melhorar a função imunitária. É reconhecido o papel que vitaminas como a vitamina C, D, A, E, vitaminas do complexo B e minerais como o zinco, selénio e ferro e o seu défice pode contribuir para o declínio do sistema imunológico, frequentemente caracterizado por níveis aumentados de inflamação e resposta imunológica, tanto inata como adaptativa reduzida.

 

Filipa Falcão, Naturopata Cédula profissional nº C-002659

 

Referências Científicas


1 Venter, C., Eyerich, S., Sarin, T., & Klatt, K. C. (2020). Nutrition and the Immune System: A Complicated Tango. Nutrients, 12(3), 818. doi:10.3390/nu12030818


2 Mora JR, Iwata M, von Andrian UH. Vitamin effects on the immune system: vitamins A and D take centre stage. Nat Rev Immunol. 2008;8(9):685-698. doi:10.1038/nri2378


3 Siddiqui, M., Manansala, J. S., Abdulrahman, H. A., Nasrallah, G. K., Smatti, M. K., Younes, N., … Yassine, H. M. (2020). Immune Modulatory Effects of Vitamin D on Viral Infections. Nutrients, 12(9), 2879. doi:10.3390/nu12092879


4 Martens PJ, Gysemans C, Verstuyf A, Mathieu AC. Vitamin D's Effect on Immune Function. Nutrients. 2020;12(5):1248. Published 2020 Apr 28. doi:10.3390/nu12051248


5 Carr, A., & Maggini, S. (2017). Vitamin C and Immune Function. Nutrients, 9(11), 1211. doi:10.3390/nu9111211


6 Jafari D., Esmaeilzadeh A., Mohammadi-Kordkhayli M., Rezaei N. (2019) Vitamin C and the Immune System. In: Mahmoudi M., Rezaei N. (eds) Nutrition and Immunity. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-16073-9_5

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